Thursday, April 22, 2010

Os Três Mal-Amados


O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.

O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.

O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.

O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

João Cabral de Melo Neto

Monday, October 19, 2009

Redescobrindo velhas coisas e verdade.

Chorar não resolve, mas ajuda um bucado a aliviar o peso que esta te impedido de respirar. Falar pouco é uma virtude, aprender a se colocar em primeiro lugar não é egoísmo, e o que não mata com certeza fortalece. Soprar machucado só funciona com aqueles joelhos que você ralava quando criança e na hora de passar o mertiolate, por que definitivamente tem feridas que quando mais se assopra mais dói, e olha que mertiolate nem arde mais. As vezes mudar é preciso, nem tudo vai ser como você quer, e a vida continua. Pra qualquer escolha se segue alguma conseqüência, vontades efêmeras não valem a pena, quem faz uma vez não faz duas necessariamente, mas quem faz dez, com certeza faz onze. Perdoar é nobre, esquecer é quase impossível. Nem todo mundo é tão legal assim, e de perto ninguém é normal. Quem te merece pode sim te fazer chorar e talvez ate mereça seu choro, quem gosta cuida, o que está no passado tem motivos para não fazer parte do seu presente; não é preciso perder pra aprender a dar valor! E os amigos ainda se contam nos dedos. Aos poucos você percebe o que vale a pena, o que se deve guardar pro resto da vida, e o que nunca deveria ter entrado nela !!!

Não tem como esconder a verdade, nem tem como enterrar o passado, o tempo sempre vai ser o melhor remédio, mas seus resultados nem sempre são imediatos.

Não fique preocupado, você nunca sabe quem está dinovo se apaixonando
pelo seu sorriso !!!

E é isso...

Mas eu, em cuja alma se refletem
As forças todas do universo,
Em cuja reflexão emotiva e sacudida
Minuto a minuto, emoção a emoção,
Coisas antagônicas e absurdas se sucedem —
Eu o foco inútil de todas as realidades,
Eu o fantasma nascido de todas as sensações,
Eu o abstrato, eu o projetado no écran,
Eu a mulher legítima e triste do Conjunto
Eu sofro ser eu através disto tudo como ter sede sem ser de água.

Monday, January 12, 2009

Limite

Não que eu pensasse que nunca mais me apaixonaria, não, definitivamente não foi isso que pensei. Me imaginava como uma planta, que talvez não floresça. Talvez demore. Só não imaginava que seria assim. Vindo sei la de onde e tão rápido. Não era hora de me apaixonar, estava numa dada "crise" que hoje me provoca risos, pelo menos era isso que eu acreditava fielmente.
Então eu tropecei. E então eu senti aquele perfume, senti aquele gosto, e depois o suor, e eu ouvi a voz.

Com o amanhecer do dia, eu acordei. Eu imaginei que o gosto sumiria e que eu nem me recordaria do perfume. Depois de um tempo eu percebi que mesmo que tudo isso acontecesse a voz eu não esqueceria. Tinha uma certeza. Poderia não me apaixonar, mas esquecer, não. Eu não podia mais esquecer.

Então teve um tempo de pausa. E a saudade me troce de volta. Mas deixe explicar essa saudade. Era uma saudade diferente, forte, grande, mas que me provocava tranquilidade e paz, não me deixava tensa nem me impedia de trabalhar com outras que tive antes.

E quando eu cheguei o sentimento que tive não dá pra definir com palavras.
Então sem mais nem menos eu floreci.
Nunca ansiei por finais felizes. Mas dessa vez eu exijo um.
Exijo porque posso exijir. Quero aquele cheiro pra sempre, quero uvir aquela voz todos os dias. Quero tudo. Quero sorrir e sofrer se for necessario.



Quero ser livrer. E liberdade na vida é ter um amor para se prender.


"Não me deixe viver o que posso
Que me seja permitido desapender os limites."







Sunday, October 12, 2008

OK....
Foi assim...
Anota os ingredientes...Misture a vontade de ir embora, um coraçao batendo forte, depois a vontade de ficar, bastante trabalho, muitas duvidas, um coraçao partido, vontade de ir embora, lagrimas, muitas escolhas, vontade de ficar...ai eu fui embora.
Sem despedidas. Sem bota fora.
So virei as costas e fui embora.


Eu bato a porta!
Eu vou embora!

Eu bato bem forte a porta
e saio sem olhar pra trás.


Bom... Eu fui. As coisas tem ido bem...Muito trabalho...bastante trabalho.
Cabeça ocupada.
Tenho amado as pessoas e os lugares ...
Mas sinto saudades de casa. Das pessoas velhas...das boas pessoas velhas...

Ate da fumaça da usina.

"Amigos ! Saudades de vc's ! PERDAO pela falta da despedida, mas eu nao teria coragem de ir se nao tivesse meio que fugido. Pessoas que eu amo...Q me amam...Sinto falta de vc's !"

Bom Bom...é isso.

Tuesday, September 30, 2008

Liberdade

Liberdade ?!

Passei grande parte da vida sendo escrava de alguma coisa, portanto deveria entender o significado dessa palavra.Liberdade.Acho que desde sempre lutei para que fosse meu grande tesouro.
Lutei contra meus pais que queriam que eu fosse tudo, menos o que eu queria ser. Lutei contra meus amigos do colégio, lutei para arranjar meu primeiro emprego que me sustentava as maluquices que queria ter e fazer. Lutei contra o ambiente hostil da profissão que escolhi. Lutei pelos ideais que se aprende nos livros da faculdade de historia, ate que escutei Beatles, de verdade pela primeira vez, e decide que era muito mais divertido gostar de rock que de Marx. Lutei pelo amor de meu primeiro, meu segundo, meu terceiro namorado. Lutei pra ter coragem de me separar de meu primeiro, de meu segundo, de meu terceiro, porque o amor não tinha resistido, e eu precisava seguir adiante, ate encontrar a pessoa que tinha sido colocada nesse mundo pra me encontrar - e não era nenhuma dos três.
Enquanto lutava, via pessoas falando em nome da liberdade, e quanto mais defendiam esse direito único, mas escravas se mostravam dos desejos de seus pais, de um relacionamento, do luxo, dos amores que não se podiam dizer "não", de projetos interrompidos no meio. Escravas de uma vida que não tinham escolhido. E assim seguiam dias e noites iguais onde a aventura era uma palavra em um livro ou uma imagem na televisão.
LIVRE.
Livre estou agora. Livre estaria ate dentro de uma prisão, por que liberdade continua sendo a coisa que mais prezo nesse mundo.Claro que isso me levou a beber vinho que não gostei, fazer coisas que não deveria ter feito e que não tornarei a repetir, ter muitas cicatrizes no meu corpo e principalmente em minha alma, ferir muitas pessoas - algumas 'as quais acabei pedindo perdão, em uma época que compreendi que podia fazer tudo, exceto obrigar outra pessoa a seguir-me em minha loucura, minha sede de vida. Não me arrependo dos momentos que sofri, carrego minhas cicatrizes, sei que a liberdade tem um preço alto ,tão alto quanto o preço da escravidão. A única diferença é que você paga com prazer, e com um sofrimento,mesmo quando é um sorriso manchado de lagrimas.

Thursday, August 21, 2008

Coisas da vida....

É estranho como as coisas mudam de uma hora pra outra na vida da gente...

Dissem que isso é consequência de se estar vivo.

Dissem também que quando a vida fecha uma porta abre uma janela...



...




Alguem por favor me aponta a porra dessa janela ?!

Thursday, August 14, 2008

E assim vai indo...

Estou passando por numa fase ótima. Há muito tempo não sei o que é o ócio. Gosto dessa movimentação: os dias passam rápido, as horas mais ainda.. a cabeça ocupada, produzindo, vendo resultados. Sempre algo pra fazer, pra concluir, pra resolver. No fim, bate um misto de cansaço e satisfação que é muito bom!
Eu poderia começar a reclamar: da falta de tempo, do excesso de trabalho, da incompetência das pessoas.. do cansaço e etc. Afinal, as pessoas adoram reclamar. É incrível como elas sabem se fazer de vítimas. Mas, diante de algumas coisas que tenho observado, só posso ter mais certeza de que manter-me ocupada é o melhor a se fazer.
Espanta-me como tem gente que se diz tão ocupada e sem tempo pra nada mas que tem tempo o suficiente pra ficar criando hipoteses sobre a vida, o caráter e a personalidade alheia!!!!!Colocam-se no patamar de perfeição e concluem que suas verdades são absolutas.


É cá entre nos.. pensando bem, pra quem tem um mundo tão limitado, fica fácil ter como referência só a si.

E aí, vem aquele monte de auto-afirmações...
Já discorri não apenas uma vez sobre o que penso sobre as auto-afirmações... é simples: quando você precisa provar demais o que você é, significa que no fundo, nem mesmo vc tem essa certeza. Acredito que esse seja um comportamento natural quando se tem 13 anos, você busca uma afirmação, quer se definir no grupo, e por isso, se auto-afirma o tempo todo. Mas depois de uma certa idade.. já fica ridículo.
"Ou pelo menos, o que me leva a agir não é o que eu sinto, mas o que eu digo." É.. Clarice soube muito bem descrever as fraquezas humanas.

Lamento por aqueles que se consideram imutáveis, invencíveis e absolutos.

A cada dia, aprendo algo novo, conheço novas pessoas, ouço uma nova música, descubro um novo detalhe no meu rosto, tenho uma nova visão sobre um determinado assunto. Não sou a mesma de 5 anos atrás e Deus me livre de continuar a mesma nos próximos 5 anos. A mediocridade me apavora.

“Somente a mudança é eterna!
Um homem não pode entrar duas vezes no mesmo rio!”


Por fim, apenas lamento. Pois aqueles que se julgam tão únicos, verdadeiros e sem falhas, decepcionar-se-ão apenas com eles mesmos, porque vão se dar conta de que (pasmem) são iguais a todos os outros reles mortais: como as mesmas falhas, os mesmos defeitos.. é, aqueles que você tanto apontou e criticou. Os mesmíssimos.