Friday, July 18, 2008

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Toda vez que saia de sua casa, não cansava de cheirar minhas mãos.

Como uma criança quando inspeciona as mangas da camisa. Uma curiosidade selvagem. Nas mãos, a fotografia da minha "virilidade". Nas mãos, a umidade derramada da fruta que acabara de descobrir. O derrame da fruta. Um cheiro que nada conseguiria me explicar além do olfato.

Um cheiro que pedia que nunca mais a lavasse. Que colocasse minha saúde em risco, se fosse o caso. As mãos que foram devassas incitadas pelos dentes. Que procuraram um lugar fora de mim. E não desejavam retornar ao alistamento da espuma. Que gostariam de tomar banho seco a partir de agora, como os passarinhos na terra fofa da praça. Eu me embriagava com os dedos.

Os dedos que tocaram o escuro mais claro de minha vida.

Uma mão que não poderia retomar ao seu serviço. Uma mão que não era mais útil, mas estranha e poética, como o esboço em giz que seria depois coberto pela tinta a óleo.
Era a hora do dia que mais queria fumar um cigarro, mas nunca fumava. Tinha medo de que o cheiro se perde-se na fumaça.
Era uma mão para ser escondida. Uma mão exigente, viciada, dependente de outro sorvo.

Um segredo, uma maldição na mão, que a condicionava a crescer e se despedir de antigos deleites.
Uma mão egoísta, egoísta, egoísta.

A mão não seria mais jovem a partir daquele momento. Suas veias dilatadas pela extinção da inocência. Destinada a envelhecer mais rápido, a desdenhar do sofrimento. Não aceitaria carona, não pediria cuidado. Uma mão febril.

Uma mão triste por ser a última a ficar no quarto. A última a lembrar. A última a doer a despedida.

Cuidava para que ninguém me olhasse e cheirava novamente.

Minha cola de sapateiro. Meu loló. Meu blusão de unhas embebido de pomar e neblina. Inspirava fundo, enchia o pulmão, sem me preocupar em perder a consciência.

O cheiro do sexo dele.

Toda nudez dele ainda estava deitada no dorso da minha mão.

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