Thursday, July 31, 2008

Corpo

Vendo o modo como ela põe os cabelos para trás,
e o corpo quer ser a concha de sua mão.
Eu sou adepta do corpo.
O corpo me ensina mais humildade do que a alma.
O cansaço do corpo.
Os limites do corpo.
Os senões do corpo.
Os serões do corpo.

O corpo me dobra e me convalesce.
O corpo manda, não avisa.
Por ele, sei quando devo voltar.
Quando devo parar.
Quando devo me ajoelhar.
Quando devo desistir.
Quando devo recomeçar.A alma não, sempre me pede o que não posso fazer.
A alma me mata.
A alma me condena a não me contentar.
A alma é ambiciosa, insatisfeita.

O corpo me adapta a morar onde não quero,
a criar desejos do nada.
O corpo é uma insignificância imaginária.

Vejo o modo como ela morde os lábios
e o corpo quer ser seu dente da frente.
Vejo o modo como ela afasta os quadris
e o corpo amarra as duas pernas.

Os corpos se esclarecem, as almas complicam.
Os corpos não mentem, as almas fogem.
Não há como esconder um corpo.

Sou muito mais corpo do que alma.
O corpo não precisa esperar a noite por uma mulher.
O corpo já tem a noite dentro de si.

Beije o corpo com suor, não com os lábios.
O suor é boca pelo corpo. O corpo se arrepia.
A alma se convence.
O corpo. O corpo. O corpo.

O corpo é essa garrafa que quebro para viver derramado.

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