
Minha laranja amarga e doce
meu poema
feito de gomos de saudade
minha pena
pena pesada e leve
secreta e pura
minha passagem para o breve breve
instante da loucura...
ME LEVE - CANTIGA PRA NÃO MORRER
( Ferreira Gullar) - 1984
Quando você for se embora
Moça branca como a neve
Me leve, me leve
Se acaso você não possa
Me carregar pela mão
Menina branca de neve
Me leve no coração
Se no coração não possa
Por acaso me levar
Moça de sonho e de neve
Me leve no seu lembrar
E se aí também não possa
Por tanta coisa que leve
Já viva em meu pensamento
Moça branca como a neve
Me leve no esquecimento
Moça de sonho e de neve
Me leve no esquecimento
Me leve.
Hoje olho o porta retrato...
Está vazio onde lembro...
O gosto amargo...
De um grande não...
E sinto neste amargo...
A fluidez dos ventos...
E das doces lembranças...
Teu nome...
Teu cheiro...
De lembranças que não...
Consigo esquecer...
E no vazio deste...
Porta retrato ainda...
Lembro que em mim...
A distância é solidão...
Caso você queira posso passar seu terno,
aquele que você não usa por estar amarrotado.
Costuro as suas meias para o longo inverno...
Use capa de chuva, não quero você molhado.
Se de noite fizer aquele tão esperado frio
poderei cobrir-lhe com o meu corpo inteiro.
E verás como a minha pele de algodão macio,
agora quente, será fresca quando for janeiro.
Nos meses de outono eu varro a sua varanda,
para deitarmos debaixo de todos os planetas.
O meu cheiro te acolherá com toques de lavanda
- Em mim há outras mulheres e algumas ninfetas -
Depois plantarei para ti margaridas da primavera
e aí no meu corpo somente você e leves vestidos,
para serem tirados pelo seu total desejo de quimera.
- Os meus desejos, irei ver nos seus olhos refletidos.
- Mas quando for a hora de me calar e ir embora
sei que, sofrendo, deixarei você longe de mim.
Não me envergonharia de pedir ao seu amor esmola,
mas não quero que o meu verão resseque o seu jardim.